quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Uma Gestão nada compartilhada na UnB.

Adriano Dias[1]
Lorena Fernandes
[2]
Desde 2008 a UnB iniciou um processo de profundas transformações, desencadeadas pela organização do movimento estudantil, que com maturidade, apontou as grandes distorções existentes na democracia e no funcionamento universitário. A ocupação da Reitoria em 2008 foi o estopim de uma crise que se arrastava por mais de dezesseis anos, em diversas gestões que compactuaram com o desmantelamento da educação pública brasileira aplicadas por sucessivos governos (Collor, FHC e Lula) sem questionamento a essa política.
A dura crítica ao REUNI, às fundações privadas, a falta de democracia e os fortes indícios de corrupção deram o tom na luta do movimento estudantil o que demonstrou claramente a possibilidade de se indignar, se organizar, lutar e vencer. Sem dúvida a parceria com outros movimentos da universidade (docente e de servidores técnico-administrativos) foram fundamentais para conquistarmos as mudanças alcançadas.
A posse do novo Reitor José Geraldo, que foi eleito principalmente com os votos dos estudantes, veio com a proposta de construção de uma “gestão compartilhada”.Essa consigna já se mostrava difusa e pouco clara em relação à forma como seria aplicada, pois não questionava profundamente a estrutura de funcionamento da universidade.Após 1 ano de gestão esse perfil tem se confirmado.O Congresso Estatuinte Paritário, por exemplo, promessa de campanha do Reitor, ainda não saiu do papel. A possibilidade de se “compartilhar” a decisões na gestão universitária, nos colegiados, nos conselhos não sofreu qualquer mudança e permanece na desigual composição de 70% de votos para docentes, 15% para estudantes e 15% para servidores. (proporcionalidade inventada pelo regime militar que vem sendo mantida na Universidade).
As fundações de direito privado, que desencadearam a forte crise da UnB em 2008, tem sido tratadas apenas do ponto de vista do “controle social” se esquecendo completamente da sua função privada e a sua proposta de desresponsabilização do Estado em relação a política pública de educação.Sem contar a corrupção que é evidenciada em todas as fundações privadas ligadas as universidades, segundo o MPF (Ministério Público Federal).Esses fatos demonstram que o problema destas instituições não é apenas de controle ou da sua moralização, mas sim que o seu caráter mercantil significa um contraponto ao significado público e gratuito das universidades federais
Entendemos que o inicio da resolução desses problemas passa pelo descredenciamento gradativo dessas entidades e o fortalecimento da Universidade Pública através do financiamento público.
Ocupe a UnB!
No último semestre a nova Reitoria, através da SECOM (Secretaria de Comunicação) organizou uma campanha de recepção dos calouros com o tema “Ocupe a UnB”, com o pretenso objetivo de estimular os estudantes a participarem de todos os espaços universitários.O fato é que após a aprovação do REUNI (Plano de Reestruturação e expansão das universidades federais) as dificuldades de espaço físico na universidade aumentaram profundamente.A mal planejada expansão que com pouca discussão foi imposta à UnB tem ampliado problemas como a falta de professores, servidores, laboratórios, espaços culturais e etc. e que também vai resultar em salas e anfiteatros superlotados colocando em xeque as condições de ensino e até mesmo as condições de trabalho dos docentes.O tripé ensino, pesquisa e extensão que fundamentam o grande diferencial da universidade pública e garante a qualidade na formação, tem estado cada vez mais em risco, já que não há bolsas suficientes para pesquisa, extensão, monitoria, permanência.Assim diversos estudantes têm frequentado a universidade sem que tenham reais condições de ocupá-la!
Nos últimos dias estudantes dos mais diversos cursos tem ocupado salas da universidade para organizar seus Centros Acadêmicos. Essas ocupações se tornam um marco do movimento estudantil da UnB em 2009, pois foram ocasionadas por estudantes que espontaneamente perceberam que a universidade não tem dado prioridade aos espaços autônomos de organização e socialização estudantil. A cultura de que os estudantes são menos importantes no processo de construção do conhecimento tem sido reproduzida nesta gestão que tem uma visão secundária dos centros acadêmicos. Os estudantes sabem da importância do CA, de sua história nas profundas transformações sociais,no enfrentamento ao regime autoritário, nas discussões de formação profissional, no estimulo a cultura, na emancipação humana e na formação do individuo como ser coletivo. Nossa função é ocupar os espaços da nossa universidade, demonstrando que é necessário afirmar a importância do centro acadêmico.
Falta autonomia para o DCE!
Infelizmente o DCE, a mais importante entidade de representação dos estudantes da UnB, também recém eleita com a expectativa de fazer diferente em sua prática e reconstruir o cotidiano, tem preferido sustentar a Reitoria, ao invés de apoiar a luta e as ocupações estudantis. O DCE que deveria ser a entidade que ajudaria a encaminhar soluções para os mínimos problemas que algumas ocupações geraram, ajudam a desconstruí-las com a preocupação de defender a administração central.
Em muitos momentos quando tentamos garantir um direito (como espaço físico para centros acadêmicos) e não somos atendidos temos que agir de forma mais ousada para demonstrar que existe omissão e descaso por parte da administração da UnB,mas esta não é a compreensão do DCE. Há uma tentativa de jogar uma cortina de fumaça tratando a falta de espaço físico para os C.As como um problema pontual e não vinculado a profunda crise que a expansão mal planejada (REUNI) tem resultado. Se o REUNI tem provocado a falta de espaços para salas de aula, laboratórios e amplia ainda mais o problema de espaços para o C.As, não há como separar e ter uma visão propositalmente limitada, como faz o Diretório Central dos Estudantes através de sua atual direção, sendo que o seu apoio ao REUNI ocasiona limitações na fomentação e organização das demandas quando elas contestam esse projeto ou a reitoria.
Novos Rumos para o movimento estudantil da UnB
É necessário rearticular o movimento estudantil,resgatando a combatividade de anos anteriores.As ocupações são uma saída importante, pois apontam a mobilização como forma de acordar a universidade para as necessidades atuais.É necessário o surgimento de um contraponto ao Diretório Central dos Estudantes e a forma de vinculação a Reitoria no trato da gestão da entidade. Novos rumos para o movimento estudantil da UnB, significa termos a capacidade de entender as realidades sem avaliações exageradas construindo todo o apoio a mobilização dos C.As, dos cursos e dos estudantes da universidade.Uma alternativa que possa enfrentar as fundações privadas, defender uma expansão de qualidade que não coloque em xeque o papel de garantir uma formação qualificada e a aplicação do tripé ensino pesquisa e extensão aproveitando todos os espaços de democracia e mobilização dos estudantil.
Esta nova cara do movimento estudantil da UnB deve ser a de independência em relação a Reitoria,pois para o DCE representar os estudantes perante a administração não é necessário ser parte dela.
E para começarmos convidamos você a construir esse movimento a partir dos processos de ocupação. Fazemos parte de um coletivo estudantil que tem participado das ocupações ao lado dos estudantes para defender uma Universidade pública, gratuita, de qualidade, laica e a serviço de uma sociedade mais justa. Chegou o nosso momento novamente. Vamos à Luta !

[1] Coordenador Geral do CALET/
Membro do Coletivo Vamos à Luta
[2] Representante Discente no Consuni (Conselho Superior da UnB)/ Membro da Chapa 2 “Mudando o rumo dos ventos” nas eleições do CASESO/ Coletivo Vamos à Luta